Mosaico
Mosaico
No piso de mosaico, a bela adormece. Não é tão bela assim, mas é mulher.
Teu corpo quente
de pele morena
em contato com o solo
provoca, arde ... queima.
São pólos opostos que apostos de encontram.
Um sem vida, todo desenhado
ladrilho, piso de casarão antigo,
outro vida, todo ondulado
corpo, carne macia de mulher.
E os raios de sol, sujos, empoeirados pela cidade imunda, te toca.
Toca teu corpo moreno
tão pisado quanto o ladrilho que a contem,
este teu corpo, de formas, pequeno
tão grande que o segredo do sexo retém.
Relaxas ao sol, o asfalto poeira te cobre mais ainda de sujeiras.
Cobre a sujeira recebida
das noites ao andar pelas calçadas
vendendo teu corpo, ilusões
momentos que se tornam em nada.
O contato está feito, tudo acertado,
no hotel, bordel, mais um cliente,
tremes teu corpo, mentes êxtases para ele.
Para Você , não deu desta vez,
não recebestes o carinho necessário
para aquecer-te por um momento.
Ele, esgueirando-se em momentos fugidios
desfruta de teu inerte corpo, instrumento.
Na eletrola uma samba diz “não vou chorar”, choras. O calor te queima.
Remexes teu corpo, calada,
envoltos por panos já sem cor.
Desnuda em tua intimidade, não tão íntima,
afloras o sonho de uma vida sonhada.
Ilusões de uma infância, quimeras,
hoje mera realidade destroçada
pela mão do destino, condição social,
interferência em teus caminhos
de menina moça ... contornos roliços,
carne macia em busca de carinhos,
hoje máquina de prazer para noviços.
Rolas no piso, mosaico desbotado . O vento desnuda teu corpo como desnuda esta tua alma de esperanças.
01.11.1 982