PEDIDO AO MUNDO
Vem o dia, chega fulgente,
Clareando o medonho patíbulo!
O Sol abre os olhos do mundo,
E a Humanidade escreve mais um capítulo
Da sua conturbada história,
Um canto desafinado e plangente!
Vem a noite, chega mansa,
Entrevando o céu risonho!
A Lua inspira o sono profundo,
E a Humanidade reescreve em sonho
O que tomou assento na sua memória,
Um murmúrio reprimido de esperança!
Assim o tempo cria e recria seus versos, sua poesia,
Na renovada finitude da vida, no dia a dia,
Matando um sonho, parindo outro,
E, no tempo imerso, meu poema emerge aos poucos!
Tanto o homem citadino quanto o homem campestre,
Todo o mundo que o ventre sagrado da Natureza produz
Carrega na corrente ininterrupta dos dias sua pesada cruz,
Fustigado pela mesma chibata que feriu o Divino Mestre!
O mundo é uma engrenagem movida a receitas e despesas,
Obediente ao rigor da inexorável lei da oferta e da procura!
Já não clamo por mim, apenas peço, da minha cova escura,
Que poupe as crianças, estas criaturas ainda tão indefesas!