Roubaram a minha infância

Roubaram o brilho dos meus olhos

O segredo da minha alegria

Roubaram minha vontade de amar

Minha memória está vazia.

Hoje faço parte de um todo

Mas eu não mato nem tão pouco roubo

Sou apenas um número a mais

Sou órfão dos meus pais

Faço parte do cinza do céu

Do nublado da vida

Das enchentes que inundam as ruas

De uma estrada sem divisa.

Sou a prova viva da miséria

E se meus olhos já não dizem mais nada

O meu peito ainda sente a vida

Será que existe dentro de mim uma saída?

Pele castigada pelo sol

Corpo franzino de um menino

O peso da realidade sob meus ombros

E pés calejados pelo trabalho

A infância me faz fraquejar

O meu desejo renega onde estou

Um trabalho imposto pela fome e pelo medo da morte

Janelas abertas aprisionadas pelo medo

Carros blindados e refrigerados

Minhas palavras ignoradas são ditas em vão

Somos os monstros da população.

Tem menino bem cuidado

Sentado do outro lado

Feliz com a vida que tem

E eu aqui nesta vida de ninguém.

Não é fácil entender esta estatística

Que nos faz personagens do lado errado da vida

Quero de volta meus chinelos

Quero agasalho para me aquecer

O coração que me arrancaram do peito

Barriga cheia para me satisfazer

E se possível, devolvam os meus sonhos

Para que eu possa voltar a viver!

Luciana Corrêa

Luciana Corrêa
Enviado por Luciana Corrêa em 08/10/2012
Código do texto: T3922356
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.