DESERDADOS
Nesse mundo de meu Deus
já vi muita coisa boa,
muita coisa ruim;
nunca pensei que os olhos meus,
ainda fossem ver coisas tão tristes assim:
os olhos encandeados, pupila alterada
pelo fogo saindo do chão,
a terra seca, torrada,
machuca e faz chorar o coração.
Plantas e bichos vivos, pouco se vê;
o que está de pé, é osso e galho só.
Os galhos secos, para o céu voltados,
parecem a Deus querer pedir clemência, dó.
Os olhos esbugalhados
dos meninos do sertão
refletem a dor dos deserdados
que na vida, sem opção,
procuram, desesperados,
não morrerem de inanição!
Feito moscas, dos anjinhos, os corpos caem;
parecem bichos abandonados, sem dono.
Pelo mundo inteiro saem,
as notícias e imagens do abandono!
A miséria é profunda;
a fome, mal sem razão.
A sociedade torpe, imunda,
reprime, sonega solução!
A coisa pior, mais triste e medonha,
é que aqueles que estão distantes,
sentem nojo, medo e vergonha
quando, em suas cidades, surgem os retirantes!
Eu pergunto, meu Deus:
até quando isso vai durar?
Será que os tristes olhos meus,
para sempre irão chorar?
Meu Deus, tenha dó
desse povo sofrido,valente, resistente...
que basta uma ajudazinha só,
para crescer, virar GENTE!!!