Menino do Agreste (+)

Tem um menino sorrindo sozinho na beira estrada

Pedindo carona pra ir pra escola dar uma estudada

Ele sofre debaixo desse sol quente, menino arretado

Ele que agüente, menino do agreste, chamado de peste

Carona no burro atolado, tão magro o coitado, pior que o resto

E se aqui não tem água encanada, só tem vista pro muro,

Tem tudo de nada, escola pro moleque, que o trabalho foi duro

E se trabalha com sede e estuda com fome, ele é bom no capote

Cabra arretado, menino forte. tolera a vida inteira esse sofrimento

O sofrimento de perder a mãe na ladeira, apanhar do pai sem consentimento

Cruzar a cidade dos tormentos pra chegar na capela do padre Bento

E agradecer pelo sofrimento, porque podia ser pior, sem farinha e sem jiló

Menino tem o seu emprego e ganha o pouco do seu dinheiro

Divide com o pai cachaceiro e o resto gasta com seu sonho

De ser um vaqueiro e ter uma fazenda perto da casa da sua

Antiga madrasta que fugiu da carcaça do pai do menino.

E se demora as horas pra chegar no colégio, não se abeste

É que pra cruzar o agreste tem que deixar o burro descansar,

É ele que manda nas horas do povo aqui que só tem ele pra andar.

A professora tão pobre quanto todos daquele canto, não saiu do seu

Lascado recanto e o comunicado mais triste do dia a moça me fala

Moleques, vão pra casa. Hoje não vai ter aula. Burrinho cansado,

Menino chateado, mas coloca sorriso no rosto e volta pro povo,

Amanhã é tudo de novo.

Fron Monseus
Enviado por Fron Monseus em 13/03/2007
Reeditado em 16/08/2009
Código do texto: T411180