Menino do Agreste (+)
Tem um menino sorrindo sozinho na beira estrada
Pedindo carona pra ir pra escola dar uma estudada
Ele sofre debaixo desse sol quente, menino arretado
Ele que agüente, menino do agreste, chamado de peste
Carona no burro atolado, tão magro o coitado, pior que o resto
E se aqui não tem água encanada, só tem vista pro muro,
Tem tudo de nada, escola pro moleque, que o trabalho foi duro
E se trabalha com sede e estuda com fome, ele é bom no capote
Cabra arretado, menino forte. tolera a vida inteira esse sofrimento
O sofrimento de perder a mãe na ladeira, apanhar do pai sem consentimento
Cruzar a cidade dos tormentos pra chegar na capela do padre Bento
E agradecer pelo sofrimento, porque podia ser pior, sem farinha e sem jiló
Menino tem o seu emprego e ganha o pouco do seu dinheiro
Divide com o pai cachaceiro e o resto gasta com seu sonho
De ser um vaqueiro e ter uma fazenda perto da casa da sua
Antiga madrasta que fugiu da carcaça do pai do menino.
E se demora as horas pra chegar no colégio, não se abeste
É que pra cruzar o agreste tem que deixar o burro descansar,
É ele que manda nas horas do povo aqui que só tem ele pra andar.
A professora tão pobre quanto todos daquele canto, não saiu do seu
Lascado recanto e o comunicado mais triste do dia a moça me fala
Moleques, vão pra casa. Hoje não vai ter aula. Burrinho cansado,
Menino chateado, mas coloca sorriso no rosto e volta pro povo,
Amanhã é tudo de novo.