É Seca!

Quando o belo for uma revoada de urubus...

É seca!

Quando se morre enfim e de fato pela boca...

É seca!

Quando se dança um baião ao lado da morte...

É seca!

Quando o outono agride a suave primavera...

É seca!

Quando o luar ilumina o sepulcro da menina...

É seca!

Quando as aves das margens plácidas não gorjeiam mais...

É seca!

Quando o galo cacareja na noite solitário...

É seca!

Quando o pobre deixa o pouco pelo quase nada...

É seca!

Quando o poeta não canta debaixo do juazeiro...

É seca!

Quando o mandacaru não é sinal de benção é por que...

É seca!

E aos olhos do meu carrasco carcará, eu que sou carniça, torno-me alimento único...

É seca!

E tantos vivem afundados nas chances e nós com sede de piedade. Não me digam que é por que é seca!

Izaías Serafim
Enviado por Izaías Serafim em 03/02/2013
Código do texto: T4121546
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