GENTE CONCRETO

Enganando a rotina sorria

Mas chorava à noite

Meu medo era de ter

Que deixar de ser eu

Ao conviver com as feras capitalistas

E os seres individualistas

Cada vez mais algozes

Coloquei uma armadura na cara

Assim eu me mascarei

Pra não ser engolida em rituais

De compra e venda

Em todo lugar o negócio era lucrar

Mais e mais

No escuro arregalava os olhos

Enfraquecida de tanto

Me fazer forte

Num mundo cada vez mais concreto

Eu que sentia tanto tanto

O gosto da chuva

O cheiro de mato

Minha música preferida

Um assobio de passarinho

Mas nesta cidade de pedra

Eu só escutava arranco de motores

Buzinaços de doutores

Donos das ruas e do asfalto negro

Me encolhia quando podia

Para me reconfortar

E não esquecer que era gente

Precisava de um abraço todo dia

Nem que fosse o meu mesmo

Nesse dia a dia tão duro

Ao toque do tic-tac

Tentava não ser máquina

E a luta que não cessava

Só acabava quando dormia

No aconchego do meu lar

Onde a família me recebia

Já transformada eu percebia

Foi tudo tão provisório

Era inevitável eu sei

Hoje eu sou mais um

Que vive ao clamor das horas

E do capital.

Marcela Cristiane
Enviado por Marcela Cristiane em 17/02/2013
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