CIDADE DORMITÓRIO

Simplório, moleque de rua

Queria brinquedos que via na TV

Não pode. Muito caros

Dinheiro do pai, só dá pra comer

E pagar aluguel

Simplório cresceu brincando na chuva.

Simplório rapazinho

Queria continuar os estudos

Não pode, disse o pai

Tem que trabalhar

E ajudar a sustentar os irmãos.

Simplório é apresentado ao trem

Ao ônibus depois do trem

Hora e meia de viagem até o emprego

Marmita caquética no almoço

Hora e meia de viagem de volta

Com corpos colados

E suados no coletivo.

Fim de semana, teatro não tem

Cinema não tem na cidade dormitório

Só tem a TV

O bar da esquina

E o clube que importa música estrangeira.

Quando menos espera

Uma vaga, uma esperança

Bom emprego em multinacional

Não pode! Tem que ter segundo grau completo.

Simplório não liga, já está empregado.

Simplório aprendeu a conviver com uma frase:

Não pode! Não pode! NÃO PODE!

Simplório enfrenta filas

E mais filas pra obter

O pouco que pode.

Do livro: "Criança" - 1986.

- Tema de prova de Geografia

no então vestibular da Cesgranrio- RJ - em 1991.

Sergio Alves poeta
Enviado por Sergio Alves poeta em 27/05/2013
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