Liberdade, Igualdade, Fraternidade - E a Revolta do Vinagre
Eles são representantes do povo brasileiro - responsáveis por instituir a democracia
Assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais
Segurança, bem estar, desenvolvimento, JUSTIÇA
Falam em igualdade, liberdade e fraternidade
Tão belo lema de uma antiga revolução onde um povo soberano derrubava governos opressores
E vejam só: Falam em ordem
Um romance de ficção que vai contra tudo aquilo o que alega
Um pequeno grupo de personagens – Poder Soberano
E um grande – Povo
Poder Soberano rege o povo
Fundamentando-se (escondendo-se) em ideais que moldam a seu gosto
E o povo, personagem tão bem delimitado
Humilhado
Silenciado
Um silêncio cheio de gritos
Um silêncio que é o próprio grito
Um silêncio que evolui
E se transforma em guerra
Eles falam que o povo tem orgulho de ser brasileiro.
O país do ‘jeitinho’, da malandragem e esperteza
Do futebol e carnaval
Onde opção sexual é doença que tem cura
Onde falta verba para educação e saúde
Mas promove a copa e constrói belos estádios (Para a felicidade de todos, é claro)
O povo ouve sobre Direito Universal, mas não sabe do que se trata
O povo assiste a Constituição a ser rasgada
Come veneno
Têm a sua voz abafada
Compra espelhos só para ver a doença a se espalhar
O povo tem fome
E seu inimigo é aquele que rouba o seu último pedaço de pão
E não o outro tipo de ladrão
Que nunca soube o que era fome
E, para quem nunca teve fome, falar de comida é golpe baixo
Eles são baixos
Mas o povo é que é chamado de vândalo
De ladrão, de criminoso
É povo que vive atrás de grades – De ferro e de opressão
Havia só silêncio
(Além do som da TV)
E, então, um murmúrio
(Vinte centavos!)
Cochichos e aglomerações
(Vinte Centavos!)
A interrupção de anos de silêncio
(‘Só’ vinte centavos!)
Um gigante que se levanta
(Basta!)
O Poder Soberano é forte
E esconde os seus segredos sujos na prerrogativa daquilo que representa
Mas o povo é ainda mais forte
Unido pelo seu desejo de ser finalmente ouvido
Unido pelos mesmos ideais de uma Constituição que rege todas as regras que deveriam ser seguidas – E não o são
Liberdade!
Igualdade!
Fraternidade!
Basta!
Já é tempo de revolução
Não é só por vinte centavos
É sobre anos de manipulação e controle
Toda a sujeira escondida a sete chaves
A história manchada de sangue
Todas as almas vendidas, trancafiadas, caladas
Mas é, também, por vinte centavos
Em vinte centavos cabem avenidas humanas, corredores de gente
Cabem refeições e catracas puladas (Mas não o salário do cobrador ou do motorista)
Cabe a diferença entre valor e preço
Cabe o desrespeito à liberdade de ir e vir
Cidades virando balcões de negócio
Cabe rimar transporte com direito
Cabe governadores que ditam a lei do mais forte e tem cães de guarda que vestem farda
Cabe decretar falência de ordens e órgãos de um sistema que não serve nem nunca serviu
Cabe a palavra BASTA e todo o poder que ela tem
Cartazes, faixas, máscaras, gritos e flores
Cabe cutucar sonhos adormecidos
Desmascarar corruptos
Fazer política com as próprias mãos
Eles não televisionarão ou contextualizarão a nossa verdade
Mas nós seremos ouvidos
Somos mais fortes quando unidos
Quando nos determinamos a lutar por aquela justiça, tão defendida em nossas leis
A hora é agora
Um movimento do povo
Que se espalhará em mais mil movimentos
Que arrebatarão uma rígida estrutura de mentiras
A história será transformada
O povo descobriu sua voz e não mais se calará
É no seu coração que explode sua revolta
É a marcha, a espada, o grito
Não é por vinte centavos, não é por uma bola em campo, não é por uma pena em terra
É por tudo isso, e outros tantos
Somos nós o Brasil
Não o Brasil ‘terceiro mundo’, o Brasil ‘piada no exterior’
Mas um país onde o povo luta pelos seus direitos
Vamos provar nossa força
Seguindo em frente, firmes e fortes nessa disputa,
E, então, amada pátria,
“Verás que um filho teu não foge a luta”.