Novos bárbaros
Nas fímbrias da cidade proliferam favelas e cortiços
e às mazelas em avanço se incorporam novos vícios.
Fortes grades, grandes muros se anteparam à violência.
Fragmentam-se as fronteiras, separando luxos, lixos...
Prostituem-se mulheres, disseminam-se misérias.
E sobre velhos, jovens, crianças
(nos campos e cidades, palcos de beleza)
invade, avança, alcança o “espetáculo” da pobreza.
É insano o universo
da acumulação agrário-urbana,
é brutal o insucesso da desigualdade profana
que barbariza a “civilização” que se derrama
Enquanto isso, fogem as elites em disparada
para as “mini-cidades de muralhas feudais”
hodiernamente (re)inventadas...
Fogem das armadilhas sociais iradas,
frutos de políticas por si mesmas criadas.
Amiúde, construindo Assim se refundam
e derrubando muros, os novos bárbaros
a cidade, em apuros, e gladiadores dos tempos globais
aparta cada vez mais: reinventados e controlados
em espaços capitalistas, seus locus e dotes arquiteturais
executivos especializados, e modernos urbanismos
trabalhadores braçais, recriadores, em simultâneo,
(sub)desempregados. de degredados arcaísmos...
Assim se vão lançando as bases
da cidade do futuro
viciada em tecer emblemáticos novos muros
diante dos novos bárbaros, em franca expansão,
considerados filhos bastardos, sendo, entretanto, filhos legítimos da modernidade obtusa
uma vez que gestados no ventre
da própria cidade que os recusa...
(Poema extraído do Livro: "Geografia em poesias: tempos, espaços, pensamentos - Luiz Carlos Flávio).