O ÚLTIMO ACORDE DO VIOLINISTA

Num repentino instante, em trevas ficou o ensolarado dia

Um barulho ensurdecedor silenciou sua melodia

A única cor que ainda se via era o rubro

Do filete de sangue que no canto de sua boca escorria

Dos seus olhos claros, fixos no infinito horizonte

Um finito flash de luz se esvaia

Ainda assim levemente sorria, com os dentes branquíssimos à mostra

A vida enfim lhe dera às costas

Respingos no nobre instrumento... Atingiu a fonte... Explodiu...

Implodiu intensos sentimentos...

Foi encontrada ali mesmo na praça, não está mais perdida

Não se descobriu se fugiu das mãos do bandido ou da polícia

Assim concluiu a perícia...

Perdidos estavam milhares de passistas

Repiques, tamborins, chocalhos, taróis, bumbos e surdos ficaram mudos

Rasgadas as fantasias, destruídas as alegorias, desafinada a bateria

O fim do Carnaval decretado na disritmia dos ritmistas

O tenebroso estampido impediu todos os foliões de ouvirem

O último acorde do violinista.