Poema de Miserê

Deixo, os amargos d'alma

secando ao sol

Um breve adeus

Roupas estendidas no varal

Há um pouco de mim

em cada vento que parte

Na brancura dos lençóis

que ponho a quarar

Em cada criança que passa

pela estrada de terra batida

junto, desta esperança vermelha

que se levanta do chão

Enquanto elas brincam juntas

rodopiando nestes redemoinhos

Sobre o fogão, a fissura cozida

e um pouco de feijão

Um pouco de água barrenta

Um cachorro que quase não ladra

Há muito de mim nesta paisagem

Aridez, sede, fome...silêncio

Nos sulcos, que o lamento deixou

Em meu rosto...

nem chuva, nem lágrimas

Resta-nos, esqueléticos sonhos

Ressequido gado, sobre a terra castigada

Onde deixo, os amargos d'alma, secando ao sol

Há um pouco de mim, nesta paisagem

Kellen Cristine
Enviado por Kellen Cristine em 08/05/2016
Reeditado em 30/04/2023
Código do texto: T5629476
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