CRÔNICA DO PÁTIO QUE INSISTE EM NÃO MORRER

Um dos filmes que minha mãe mais gostava

Era “Aconteceu Naquela Noite”

Com Clark Gable e Claudette Colbert

Nós costumávamos assistir filmes juntos

Até o dia que fui obrigado

A passar esconder fantasmas dentro do armário

De manhã fiquei em pé no pátio durante horas

Esperando minha vez de entrar na sala dos horrores

Os bancos de concreto estavam vazios

De frente para os obstáculos mortos

A profecia da calçada estava acontecendo

Eu sabia que aconteceria

Um amigo já havia me falado

Em poucos meses alguma coisa mudou

Tem horas que quero entrar no caminhão

Que fica estacionado em frente a área de serviço

Aguardando o toque da amarga sinfonia

Amigos morrem

E amigos ficam no tempo todos os dias

É uma realidade

Não é uma ficção

Um dia terei coragem de subir a serra

Entrar na sala

Sentar no sofá junto à janela

E falar sobre aqueles que morreram

E sobre aqueles que ficaram vivos