FOLHA DE CADERNO.
FOLHA DE CADERNO.
E como folha de um caderno risca-me como papel
Tatua tua insânia em quem há muito não sabe o que é
Dá-me a tua vacina com alfange, acínace, ou pincel
Minha roupa orgânica é uma humanidade de agonias
Sua razão é uma salabórdia de orações sem fé
Mas escreva canções, nas dores das minhas sinfonias.
E o tiro foi dado! O amor tem suas belidas de morte
A raiva tem olhos que não te reflete no espelho
Lembra-te que foi esquecido, abandonado pela sorte
Acha-se desajustado, um tímido servido de chacota
Escalpela as unhas, rói os dentes, a incúria lhe dá conselho
E da realidade é transformado em um faz-de-conta agiota
Com balas de ignorância o fuzil rasga as costas da educação
Dispara pelos corredores da universidade em alvos desesperados
Despe vidas subestimando que da espécie é seu irmão
Miolos de futuros cientistas escorrem pelo piso lúgubre
Dedos e gatilhos caminham de mãos dadas como namorados
Deitam-se, ditam a sentença nesse tribunal insalubre,...
Agora tem o clangor das armas e o poder, de ser muito mais animal.
Reservou o suspiro derradeiro para seu próprio egoísmo
Como um beijo de despedida à sua filosofia sobrenatural
Seu epicédio terá um buraco com sete palmos de terra a cobri-lo
Com colchões de vermes e parasitas te entrando com erotismo
Quiça descobrirá que nenhuma morte lhe dará um sono tranqüilo.
Não viste o teu crânio pintando a parede da sala de aula
Um Van Gogh de lírios macabros enlutando a paisagem
O mundo foi-te uma liberdade cruel que te soltou numa jaula
Destravou o ferrolho onde a penitência não faz juramento
E por mais que meu corpo corte para expor sua linguagem
Ainda serei folha de caderno, onde estará escrito, o seu último momento.
CHICO DE ARRUDA.