Visão 2016
Ao Mestre de Itabira
Meus olhos são pequenos para ver o tamanho do fundo do poço
caíram nele todas as classes de seres humanos
humanos caídos, sem voz, sem ação
são apenas espectros buscando a sua salvação.
Meus olhos são pequenos para ver a sujeira das ruas
ostracismo social, sangue, desigualdade e impunidade
não há honestidade nas ruas brasileiras
há mortos vivos, mortos bons, vivos ruins.
Meus olhos são pequenos para ver a diminuição das fronteiras
as fronteiras fechadas, humanos presos, barquinhos de lona
e ondas que que engolem a esperança de viver
navios carregam dor em seus convés.
Meus olhos são pequenos para ver a corrupção
a espertalhança criada para enganar a esperança
as panelas vazias fazem seus protestos
panelas vazias ainda matam de fome os mais necessitados.
Meus olhos são pequenos para notar que no dicionário palavras velhas ainda são novas
Favor, impeachment, ditadura, coronéis, prisão e revolução…
tão ativas, tão modernas , tão honestas e manipuladoras
são apenas palavras, escravas das ações de seus donos.
Meus olhos são pequenos para ver o tamanho Deus
que deixou de caber apenas nos corações
o Deus moderno criado pelo homem cobra dizimo
criou-se uma espécie de milagre capitalista
[a culpa é toda do senhor..
Meus olhos são pequenos e não perceberam a chegada da modernidade
a modernidade é só uma palavra, a metamorfose deu errado
o fascismo continua se modernizando
e já um forte candidato a presidência do mundo.
Meus olhos são pequenos e não conseguem entender os poetas do meu tempo
são comprados, são soldados maldosos
e em seus versos a omissão não cria rimas
escritores modernos são escravos das editoras (destruidoras de poetas).
Meus olhos são pequenos para entender o meu povão
o povão da periferia que não se mexe
povão que não se une não prevalece
meu povo, meu povão tão vasto é o seu analfabetismo-incondicional.
[meu povo não vota direito
reclama do governo
joga o seu lixo na rua que entope o bueiro
o povo reclama, só reclama do governo.]
Meus olhos são pequenos
pequenos e quase cegos
e mesmo pequenos eles enxergam o muro do preconceito
é a cor, é a religião, é o peso, é a cor do cabelo “e é nordestino, é?”
Meus olhos são pequenos enxergam o Lima Barreto pelos bares da cidade
escrevendo o futuro, sendo o mestre do seu tempo, do nosso tempo
o vejo em todas as partes, em todas ações e em todas injustiças
vejo em sua bebedice o melhor colírio para os olhos sujos.
Meus olhos são tão pequenos.
são pequenos
tão pequenos
meus olhos, meu tempo, são pequenos.