BENZEDEIRA DONA MARIA

A velha Dona Maria,

naquele longínquo rincão,

pequena cidadezinha

lá do canto do sertão,

era mulher de energias

que o povão reconhecia

e tinha consideração!

Ela benzia com afeição

todo e qualquer cidadão

que a ela sempre vinha,

lhe doando saúde e bondade

que saíam de suas mãos!

A cristão ou anticristão

que a ela acorria

lhe pedindo energias,

benzimento e oração,

Dona Maria vertia

sua alegria e contentamento,

esbanjando atenção,

fazendo o benzimento.

A quem lhe intercedia,

ela logo atendia

sem impor qualquer senão.

Um raminho verdinho à mão

ela então logo tomava

e baixinho balbuciava

sobre as almas adoentadas

suas sábias falações

e esperadas orações.

E quando logo terminava

a benzeção ofertada

não havia enfermidade

ou diabo que agüentava

tal sagrada imposição...

O capeta ia embora

e a saúde e a calma

vinham agora então

para o corpo, para a alma

do cristão ou não cristão.

Sendo assim, todo o povão,

a quem ela tanto servia,

em seu coração sentia

uma enorme afeição,

respeito e consideração

pelas sobranceiras sagradas mãos

da benzedeira afamada

chamada Dona Maria

que dava atenção e valia

à gente daquela cidade

que a ela acorria

por saúde e animação

do corpo, da alma, do coração...

Mas esse povão, um dia,

foi pego de supetão,

pois por todo o rincão corria

tristeza e desolação.

Por velhice, ancianidade

morrera Dona Maria

a benzedeira que trazia

sanidade e melhoria

a toda aquela sociedade.

Foi assim que o povão

daquela cidade-rincão

doravante, viveria

sem os benzimentos que faziam

no corpo, na alma, no coração

as mãos sagradas e sobranceiras

da falecida benzedeira,

a tão querida Dona Maria...

(Luiz Carlos Flávio)