Grito (Geografia dos suplícios)

Toda vez que eu não transgrido

o que cala e deixa aflito

o povo que, em silêncio, grita,

bem assim eu ratifico

as mentiras e os mitos

que nossa gente desditam...

Toda vez que eu não transgrido

e publico o meu grito

sobre coisas que embicam,

que agridem e mortificam

todo o povo que orbitam,

eu assino todo um jogo

que advoga contra o povo

e o lança no malogro...

Toda vez que eu não transgrido

e a outros não convido

a somarmos nossos gritos

contra atos impudicos,

é assim que eu estico

e assino muitos ritos

de tantos sociais suplícios...

A geografia dos suplícios

bem avança nos auspícios

de ações que ratificam

agressões e perversões

que sobre o povo se afincam.

Quando não defendo o povo

renovando um grito novo

ao vê-lo na boca do lobo,

lançado no bico do corvo,

assim me filio ao vício

de aceitar todo malogro

que afeta e fere o povo

como coisa de ofício...

(Luiz Carlos Flávio)