Vergonha (quando a gente não se rende)

A vergonha se embrenha

como a coisa mais bisonha

e vai deixando a gente

com a cara bem medonha!

A vergonha, sem-vergonha,

seu marasmo ela derrama

e esparrama sua senha,

seu veneno e peçonha

sobre a gente inocente

que se prende à sua lama.

Quando a gente não se vende

e, combatente, não se acanha

em soçobrar à sua sanha,

a vergonha se arranha...

Quando a gente, renitente,

se embrenha e tromba de frente,

não se rende à sua fama,

a vergonha se enfronha

e jamais segue adiante!...

Quando há gente inteligente

não gostando da vergonha,

não cedendo, não querendo

se abraçar à sua lenha,

por mais que seja inflamante,

a vergonha se apequena

se despenca e vai à lona...

(Luiz Carlos Flávio)