Andarilha

Numa caixinha de madeira

Preservava seus guardados

Com as fotos dos bons tempos

E as lembranças do passado

No altar já disse sim

Antes disso embarrigou

Muitas crias já pariu

Mas suas crias, não criou

Perdeu a pouca vaidade

Perdeu a razão pra pobreza

A penúria, no olhar dos filhos

A encheu de vazio e crueza

Seu homem se foi primeiro

Foi procurar um serviço

Se encontrou não se sabe

Pois tomou chá de sumiço

Num gesto desatinado

Num dia chuvoso e frio

Foi pra rua levando a fome

Nunca mais ninguém a viu

Se tornou quase invisível

Nas calçadas onde passa

Conversa com seu passado

E com lembranças escassas

Seguindo a morte pelas ruas

Vai purgando seus pecados

Busca refúgio na pedra

Com olhos esbugalhados

Quando foi, já não se lembra

Que no lixão encontrou

Uma caixinha embarrada

Que soluçando agarrou

Sua vida, sua história

Que a miséria levou

Rosamaria Gurniak
Enviado por Rosamaria Gurniak em 16/01/2018
Reeditado em 16/01/2018
Código do texto: T6227448
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