O milagre do nascimento

Seus olhos me fitam

E eu, em retribuição, fito os seus

Vejo-a sofrendo, colocando esta vida para fora

Já vejo a cabeça suja de sangue uterino aparecendo

Só falta mais um pouco querida, eis o que a digo

Faça um pouco mais de força

A enfermeira me olha, um brilho de desesperança

Os gritos da mulher parindo me desorienta

Olho para o teto azul-piscina

Ficaria melhor pintado de branco, penso eu

Adoro a cor branca. Sinto paz quando a vejo.

Volto a olhá-la

O sangue espalhara-se por todo o lençol

Manchara o impecável lençol branco de antes

O bebê finalmente saíra por completo

Nenhum choro, isso é estranho, penso eu.

Corto o cordão umbilical e pego-o no colo. Está morto.

A enfermeira me olha com estranha tristeza

A mulher grita desoladamente.

Não há mais o que fazer, penso eu.

Jogo o corpo da criança morta na lata de lixo ao lado da cama.

Guardo o cordão umbilical em uma pequena sacola

O jantar hoje vai ser um tanto extravagante hoje

Molho a mão na poça de sangue a passo a língua sobre o líquido

Ainda está fresco, o lençol pode ficar limpo, digo eu.

Puxo ele com toda a força e saio da sala.

Não há nada como fazer a sua parte em um dia estressante de trabalho.

Irwin
Enviado por Irwin em 03/09/2007
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