FOGUEIRA
Das chamas na madrugada escura
Pouco restou ao Sol da manhã...
Condenadas pela Santa Inquisição
Medievais lançavam impuras
Almas pagãs ao fogo eterno de Satã...
Hoje na Ignorância da Exclusão
Arderam também algumas almas cristãs...
A fé ficou no limite da paciência...
Fumaça misturou-se à poluição da cidade...
Na fria contagem da sobrevivência,
Esperanças jogadas ao chão...
Na falta de documento de identidade,
Um reconheceu os trapos do irmão...
Na lista de mão em mão,
Lamentaram o nome de antigo
Companheiro de abrigo
Ruas interditadas... barracas nas calçadas...
Famílias espalhadas dividem comida,
Juntando as sobras pra seguir a vida...
Cada um partirá para seu canto...
Nenhum será ungido santo...
Luzes... Câmera... Ação
Microfones do rádio e televisão
A manchete do primeiro momento
Sucumbirá ao pé da página do esquecimento
O entrevistado, com certo ar de tédio,
Garante que no local do prédio,
Se houver verba, será feito um parque
Quem sabe chame-se Joana D’Arc