CONTO CURITIBANO
Chega a noite
e com ela o abandono.
Ainda não é outono
mas as folhas caem
como lágrimas de chuva.
No alto da árvore nua
Curitiba desabrocha
e em pleno verão
desperta o frio
que corre nas veias.
Gelado lá fora
gelado nas almas.
Talvez por isso a cidade
ainda esteja calma.
Ou é porque o terror
ficou recluso
nalguma periferia
uma Corbélia ardendo
enquanto o prefeito
reclama do cheiro
de carniça pobre:
em sua onírica ode
o vasto parco povo
aceita graciosamente
(e inodoro)
do fausto o farto sovo.