MENINO DE RUA
A cola que tira tua fome,
é a mesma que te alicia e te transforma.
Escória de rua,
ex-menino é tua realidade crua.
Tua mãe está podre,
tanto quanto tua pátria está.
Oferecem-te o caminho do nada há a ver,
o embrião do verme de teu cadáver.
Os que te dão o pão de hoje
não o fazem para saciar tua fome.
A caridade é impessoal e some.
Os beatos são anônimos para os homens.
Buscam individualidade com Deus
e o desagravo de seus vinténs.
Diminuto mendicante,
soberboso catarrento,
és apenas um incidente
no percurso do esmolento.
Teus pais não estão entre ti e tua morte.
Não te escudam.
Se existem, acudam.
Ilusão...
O caminho de tua suposta tida sorte.
Ver-te-ei com o costumeiro desprezo,
menino de rua, numa página de jornal,
envolto em teu leito fúnebre de preso.
- Meus sentimentos, tudo na vida é banal.
Afinal, por que mudaste aos meus olhos?...