MENINO DE RUA

A cola que tira tua fome,

é a mesma que te alicia e te transforma.

Escória de rua,

ex-menino é tua realidade crua.

Tua mãe está podre,

tanto quanto tua pátria está.

Oferecem-te o caminho do nada há a ver,

o embrião do verme de teu cadáver.

Os que te dão o pão de hoje

não o fazem para saciar tua fome.

A caridade é impessoal e some.

Os beatos são anônimos para os homens.

Buscam individualidade com Deus

e o desagravo de seus vinténs.

Diminuto mendicante,

soberboso catarrento,

és apenas um incidente

no percurso do esmolento.

Teus pais não estão entre ti e tua morte.

Não te escudam.

Se existem, acudam.

Ilusão...

O caminho de tua suposta tida sorte.

Ver-te-ei com o costumeiro desprezo,

menino de rua, numa página de jornal,

envolto em teu leito fúnebre de preso.

- Meus sentimentos, tudo na vida é banal.

Afinal, por que mudaste aos meus olhos?...

jocase
Enviado por jocase em 21/10/2007
Código do texto: T702954