O choro do morro

Escuta-se o choro da fome

Num barraco fechado

O grito solidário da mãe

(quase desesperado)

Pergunta se o pequeno nenê

Quer leite?

A criaturinha, negrinha, apenas chora,

A mãe joga suas grandes tetas em sua boca.

Mas seca, já não há mais leite no negro seio,

Seus outros, não sei quantos, irmãos

Já sugaram até secar o flácido peito,

E o pequeno chora, arregaça o seu pulmão

Como se fosse para espantar a fome.

Mas o grito, do negrinho, não é forte,

Tão forte para despertar os vizinhos

Que já estão acostumados com a má sorte

E a sinfonia, tristonha, de chorinhos (sempre de fome).

É assim no morro,

Onde quase sempre,

Um pequenino chora de fome

Outros já não choram, calam-se

Pois no morro, nos fechados barracos

Escondidos, já não habitam

Já não vivem mais, morrem no morro

Mas são enterrados no asfalto.

Mas no morro

O choro não se cala

E a cada dia

Ouve-se, estridente

Faminto

Em outro barraco

Mas ninguém ouve

O choro do morro.

E eu aqui embaixo

Morro, sem sequer

Conhecer

O choro do morro.

Morro eu,

Morre você

Morremos nós

Sem conhecer o triste

Samba do Morro.

O chorinho,

O choro,

O grito de fome,

A passista morte

Que não pára

De desfilar

Pelas vielas escuras

Do Morro.

E o barraco se cala

Fechado

Como um féretro

Enterrado

No morro, que agora,

Só por instante

Fica calado.

A morte

Mora

No

Morro.

E sua

Canção

É

O choro.

De L. Red Wend