Corredores da dor

Procurando ajuda nos corredores da dor

vi pessoas sem identidade

onde o valor moral

vale quanto sem tem na carteira

o pinga-pinga de sangue na cadeira

que serviu de maca na falta de leito

do leito ausente pro soro positivo

a espera do coquetel

trazido com má vontade às cobaias.

Alma penalizada aguardando sutura

põe-se a chorar

num canto a espera de luz

velhice chegada

por um pulmão doente

entrando quimioterapia lentamente

com lembranças sadias.

Dor e horror

misturam-se na ausência de dinheiro

descaso à toa por todos os olhares

consulta anual

desmarcada por óbito ou médico ausente.

Saúde doente do ente querido

falácia oculta por guichê fechado

deixados aos bretes com suas chagas

sem soluços ou gemidos silenciosos

esquecidos na madrugada

na fila que não incomoda

paciência tem limite, ausente na fila.

No outro lado do prédio

Corredor sem mofo e bem iluminado

transitam pessoas bem tratadas

com suas bolsas à tira-colo.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 19/11/2005
Reeditado em 23/01/2011
Código do texto: T73722