O LIXO RECICLADO

Eu sou o produto

da reciclagem do lixo social;

o marginal de uma

sociedade corruptível,

o telespectador de

espectros coloridos.

Eu sou oriundo

dos escombros do alcoolismo.

Não faço

absolutamente nada

que não seja

absolutamente nada.

Vejo uns pobres diabos fardados

fardados ou não;

torturando um pobre diabo esfarrapado

esfarrapado ou não;

Presencio o abraçar

de mães em desespero,

pelo filho assassinado

pelo filho assassino.

Testemunho o arbítrio

para que a ordem seja mantida

entre os muitos que nada possuem

para o progresso da minoria

que tem em demasia

Eu sou a caduquice

que emperra a justiça

a palmatória da

cadeia pública,

o detentor de prisioneiros

de além pena.

Eu sou a sirene

que apavora a periferia,

a pedra que estilhaça os

vidros da viatura policial;

o spray que nodoa

o Código Penal.

Eu sou a troca de tiros

de um lado só,

o arquivo silenciosamente queimado.

Eu sou a bala perdida

que ricocheteia no vazio

que abala e cala

Ataliba Campos Lima

03/01/1994

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Ataliba
Enviado por Ataliba em 24/11/2007
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