O LIXO RECICLADO
Eu sou o produto
da reciclagem do lixo social;
o marginal de uma
sociedade corruptível,
o telespectador de
espectros coloridos.
Eu sou oriundo
dos escombros do alcoolismo.
Não faço
absolutamente nada
que não seja
absolutamente nada.
Vejo uns pobres diabos fardados
fardados ou não;
torturando um pobre diabo esfarrapado
esfarrapado ou não;
Presencio o abraçar
de mães em desespero,
pelo filho assassinado
pelo filho assassino.
Testemunho o arbítrio
para que a ordem seja mantida
entre os muitos que nada possuem
para o progresso da minoria
que tem em demasia
Eu sou a caduquice
que emperra a justiça
a palmatória da
cadeia pública,
o detentor de prisioneiros
de além pena.
Eu sou a sirene
que apavora a periferia,
a pedra que estilhaça os
vidros da viatura policial;
o spray que nodoa
o Código Penal.
Eu sou a troca de tiros
de um lado só,
o arquivo silenciosamente queimado.
Eu sou a bala perdida
que ricocheteia no vazio
que abala e cala
Ataliba Campos Lima
03/01/1994
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