A FOME É FERA
A fome é fera
Ela vem da selva
Toda brava e voraz
Devora sonhos
E a paz foge longe
Logo pela manhã
Ecoa o rugido cruel
Que aflige e tormenta
Num mundo perdido
Na desiqualdade
E desemprego
A fome é besta
Revoltosa e teimosa
Invade ventres
E berra impiedosa
(Induzindo alguns
Ao roubo e demais
Maldades)
É monstro bruta
Devasta a concórdia
Trucida esperanças
E arrasa famílias
Como fogo desabrido
A fome é fera
Empatia nunca teve
Pena tampouco
Nem mesmo
Com crianças —
Abala, abate e devora
Deixando apenas
Vestígios dum futuro
Desfeito na sombra
Da desilusão
E desespero
Porém um mata-bicho*
E mais algo assim
Para todos nós aqui
Poderia bem matar
Este bicho horrível
Com nome de Lombriga —
Houvesse compaixão!
*mata-bicho = pequeno almoço (Angola).
Redigido em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.