A PUTA

Um dia te deram um nome provisório

o qual permutaram pelo de esposa.

Chamaram-te menina, menina moça

e de menina em menina, mulher.

Deram-te lições de corte,

costuraram a tua boca,

maquiaram-te em moldura

de barroco efeito

e te fizeram dar a vida

para proteger o fruto virginal perfeito.

E com as regras de ternura

tornaram-te a imprestável candura

reprodutora do ócio mortal do lar.

Mas tudo bem,

no fim, te prometeram um bem.

Ensinaram-te a ser doce para o amargo do par,

amar cedendo sempre a tua parte,

amar com arte coibindo a tua libido,

gemendo a dor do cotidiano

para amenizar o teu engano

e satisfazer teu marido.

E como já de berço

rezaram-te todos os terços

com as regras de etiqueta,

menstruação e boa conduta,

caso percas o recato

arrancarão teu retrato

pra te tomarem o nome

e te chamarem de puta.

Do livro PÉTALAS DE INSÔNIA