Eu

Eu que não sou igual a ninguém, que não imaginou pássaros no céu nem tive o privilegio de ver rosas no jardim.

Eu que cresci solto na vida, que tive as ruas como mãe e o céu estrelado como teto, que ninguém ajudou mais criticaram.

Eu que tentei viver sem tirar algo de alguém (e o fiz toda vez que possível), que tentei achar uma família mais ninguém me quis, que varias vezes chorou de fome e de frio.

Eu que não sei ler nem escrever, que não viajou e nem entrou em um cinema, mais que sonhou ao ver os cartazes dos filmes e logo foi interrompido pelo barulho do estomago sem uma gota de nada.

Eu que sempre quis ser feliz, hoje me vejo apresentado às drogas, me deram de presente, o único que já ganhei, uma arma me fizeram ver que sem roubar não vou almoçar, quem sem usar drogas não vou ter coragem para assaltar e que se necessário terei que atirar.

Eu que nunca quis essa vida.

Eu que até hoje tentei ser honesto e fui toda vez que possível.

Eu que sempre sonhei com uma família feliz, com uma mãe que me beijasse a testa e contasse historias quando eu fosse dormi, com irmãos, uma escola e amiguinhos alegres como aqueles que vejo nos parques.

Eu que não tenho nome, que não fui batizado, que não conheci pai nem mãe, que não sei de onde vim hoje me sinto impotente diante de mim mesmo e do mundo, me tornei um bandido, vivo nas sombras e tenho vergonha de mim.

Eu que não sou igual a ninguém, eu que não existo para a sociedade, eu que nem nome tenho apenas sei que sou eu.

Raquel Freitas
Enviado por Raquel Freitas em 11/03/2008
Reeditado em 08/11/2009
Código do texto: T897249
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