GRITO DE REVOLTA

Mas também passo

Pelas ruas

E vejo gente

Gente

Que apesar de gente

Não é tratada

Como gente

Vivendo como os cães

Como os cães não

Como alguns cães

Abandonados

E escorraçados

Por toda a gente

Como náufragos

De um deserto gelatinoso

Que lhes tolhe

Os movimentos

E atolados na miséria

Comendo as réstias

Dos sujos e conspurcados

Caixotes de lixo

Pedindo e roubando

Dormindo na rua

Ao frio

À chuva e ao vento

Caminham sem destino

Até que a morte os leve

E vejo os drogados

Bêbados e prostitutas

E a porta de acesso

A todas estas desgraças

A porta dos moribundos

Dos desempregados

Das crianças desamparadas

Dos jovens incompreendidos

Das mulheres violentadas

Dos homens

Em guerras envolvidos

Dos velhos abandonados

Podes odiar essa porta

Podes ignorar essa porta

Podes virar-lhe as costas

Mas livre dela

Não estás com certeza

Pois só há uma forma

De por ela

Não seres engolido

É enfrentando-a

Tomando-a

Como realidade

E dedicando

Algum tempo

Para que um dia

Essa porta

Não tenha

Mais razão de existir

Daí este grito

Que é um grito de revolta

Um grito de desespero

Que espero

Não caia no vácuo

E que se transforme

Num grito de alerta

E num contributo

Para que se acabe

Com a exclusão social

Com os guetos

A miséria

E a fome no mundo

Policarpo Nóbrega
Enviado por Policarpo Nóbrega em 28/04/2008
Código do texto: T965406
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