BESTIALIZADOS


Enfim, o fim
De tão triste encanto
No murmurar da festa
Pasmos olhares de espanto

Os bestializados da terra
Solapadas tiveram as esperanças
Surdos e cegos da história
Índio, negro, marginal
Criança

Sinto no ar a silenciosa dor do pouco,
Que são muitos...
E o riso do muito,
Que são poucos.
Aos últimos, títulos de rei
Aos primeiros, títulos de louco.

E a anestesia vai passando,
A história de novo se repete
Invasão, desrespeito, farsa
Poder, lodo, peste...

Flores teimosas ainda nascerão
No solo seco e árido
É a parte que nos resta
Ao apagar das luzes
No final da festa

Ricos, não tão ricos
E pobres, bem mais pobres
Trazem sob os pés, aos milhares,
Os homens nobres(?).

A farsa e a tragédia
Que extrapolam palco, arena
Um grande teatro ao ar preso
Protagonistas dignos de pena

O aplaudir soa como chicote
Os fogos, canhões
Cidades, aldeias
Crachás, correntes, grilhões

Acorde-me senhor!
Deste dantesco sonho
A medrar-me do futuro
Futuro que adormece em um amanhecer
Medonho...