Memento Mori

I

Sinos duma velha igreja solitária

Vibram em notas lentas, chorosas,

Que ecoam preludiando

O murchar das rosas...

Era noite mais negra que de costume.

Sussurravam macabra canção

Os corvos que voejavam

Pela escuridão.

Confusos, evocando, soturnamente

A dama dos escuros cabelos

Que vagava pelos túmulos,

Sorrindo ao revê-los.

II

Ela sorria, mas de melancolia...

Os seus olhos pretos eram cândidos

E diziam mais que mil

Poemas românticos.

Em seu rosto o brilho da lua gelada

Dissipava as ilusões humanas;

Pouco a pouco emergiam

As verdades profanas...

Suas madeixas eram mares sombrios

Que pela meia-noite corriam,

Trazendo as pungidas almas

Dos que então partiam...

III

...Distante, um jovem que adoecera,

Delirava, em condição febril;

Foi quando, misteriosa,

A moça surgiu.

O rapaz afogado em dor, observava,

Assustado, a lânguida mulher;

Porém, sem ousar dizer

Palavra sequer.

"Não temas minha face pálida e triste",

disse ela. "Hoje é teu dia de sorte.

Se queres saber quem sou:

Prazer; sou a Morte!"

Renan Caíque
Enviado por Renan Caíque em 05/04/2016
Reeditado em 05/04/2016
Código do texto: T5595822
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