Enterro às Quatro da Tarde

Nada como acordar após a morte

Pois disse o sábio

“Convém a vontade de sentir

E por esse mundo ir

Sem paz

Sem descanso”

E aqui me vejo

Sendo enterrado às quatro da tarde

E sem nada poder fazer

Observando meu corpo que se decompõem

Vejo o sangue que instalou para baixo

E os algodões em minha boca e nariz

Morto como qualquer um

Apenas uma alma perdida

Me colocam, então, dentro do buraco

E vejo suas expressões apáticas

De como se enterra uma semente

A terra cai por cima de mim

E bate na madeira

Criando um som parecido com o de um tambor

A rufar pelos confins desse mundo

Ó, mundo maldito

Que tanto me fez sofrer

Hoje saio dele

E, enquanto minha alma é punida

Observo a decomposição da matéria

E o odor fétido do desprezo

Oh, não mais escuto seus passos

Foram todos embora?

Eu sei que todos eles sabem

Você quer saber também?

Pois saiba que dei cabo de minha vida

Numa árvore qualquer

Ao lado de um campo cinzento

Observando a paisagem

E hoje, morto

Cumpro a passagem

E meu ser é punido

Enquanto me enterro às quatro da tarde

Brenno Lima
Enviado por Brenno Lima em 20/09/2017
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