Ditadura
Essa chama inflama,
carrega a dor do silêncio,
o ardor das noites sofridas
e arrependidas por não gritarem mais.
Raspados da memória intencional,
foram muitos destilados
e contumazmente esmagados.
A folha rota amarelou
e destruiu a pauta cor de anil.
Em pleno chão da pátria amada,
os desterrados sucumbiram
às metralhadoras, às bombas más,
deixando em lágrimas a terra infante.
O soluçar privou mães, filhas, esposas
de carregarem as imagens longínquas
dos que em valas apodreceram
na chaga infame da brutalidade.
Se bem quisessem a esse povo
não ter passado pelo crivo,
no entardecer de uma nação
açoitariam em gritos e espamos.
Em verde-amarelo o infinito suspirou
depois daquelas tardes traiçoeiras...
Calada a noite estremeceu
diante do mar de sangue dos perseguidos.
Onde estão os que não voltaram?
Em que lugar guardam seus ossos?
A sequidão da alma acende
o luto intenso das marcas de ferro.
São Paulo, 25 de abril de 2010.