Ditadura

Essa chama inflama,

carrega a dor do silêncio,

o ardor das noites sofridas

e arrependidas por não gritarem mais.

Raspados da memória intencional,

foram muitos destilados

e contumazmente esmagados.

A folha rota amarelou

e destruiu a pauta cor de anil.

Em pleno chão da pátria amada,

os desterrados sucumbiram

às metralhadoras, às bombas más,

deixando em lágrimas a terra infante.

O soluçar privou mães, filhas, esposas

de carregarem as imagens longínquas

dos que em valas apodreceram

na chaga infame da brutalidade.

Se bem quisessem a esse povo

não ter passado pelo crivo,

no entardecer de uma nação

açoitariam em gritos e espamos.

Em verde-amarelo o infinito suspirou

depois daquelas tardes traiçoeiras...

Calada a noite estremeceu

diante do mar de sangue dos perseguidos.

Onde estão os que não voltaram?

Em que lugar guardam seus ossos?

A sequidão da alma acende

o luto intenso das marcas de ferro.

São Paulo, 25 de abril de 2010.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 27/04/2010
Código do texto: T2222924
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.