Estou vendo tudo...

Os piores cegos moram aqui,

E pareço um tolo observando os tratores,

Gritando "Pega Ladrão!",

Barulho e desespero para chamar atenção.

Cientistas de longe embrulham as plantas,

Doenças importadas consomem minha gente,

Estou aqui, na árvore mais alta da mata,

Vendo tudo: os corpos, o fogo e a fumaça,

A vida pode ser uma piada, sem graça,

Mas é tudo o que tenho, minha terra, minha choça,

Amanhã, águas represadas inundarão minha roça,

Peixes sem rumo, minha caça morrendo afogada,

Tenho sete flechas, um arco e o instinto,

Sorrisos e negociatas, gringos sorrindo,

Todos os dólares do mundo,

Aplicados num plano de custos imundo,

Trazem correntes, concreto e tristeza,

Agem com precisão e frieza,

Controlam nossas águas, tomam a mata

E fico vendo tudo, de cima da última árvore alta...

>> Poema-protesto por uma melhor avaliação do impacto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Xingú, inspirado na canção "All along the watchtower" de Bob Dylan.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 03/05/2010
Reeditado em 04/05/2010
Código do texto: T2234489
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