Estou vendo tudo...
Os piores cegos moram aqui,
E pareço um tolo observando os tratores,
Gritando "Pega Ladrão!",
Barulho e desespero para chamar atenção.
Cientistas de longe embrulham as plantas,
Doenças importadas consomem minha gente,
Estou aqui, na árvore mais alta da mata,
Vendo tudo: os corpos, o fogo e a fumaça,
A vida pode ser uma piada, sem graça,
Mas é tudo o que tenho, minha terra, minha choça,
Amanhã, águas represadas inundarão minha roça,
Peixes sem rumo, minha caça morrendo afogada,
Tenho sete flechas, um arco e o instinto,
Sorrisos e negociatas, gringos sorrindo,
Todos os dólares do mundo,
Aplicados num plano de custos imundo,
Trazem correntes, concreto e tristeza,
Agem com precisão e frieza,
Controlam nossas águas, tomam a mata
E fico vendo tudo, de cima da última árvore alta...
>> Poema-protesto por uma melhor avaliação do impacto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Xingú, inspirado na canção "All along the watchtower" de Bob Dylan.