A rua é de graça!

A rua é de graça

É o reino do povo

O povo na rua

Sem preto ou vermelho

Batendo no peito

Sou verde e amarelo!

Batendo no peito

Sou pobre e honesto!

Batendo no peito

Ressoa o protesto

Do povo que sofre

Pois rico detesto!

O povo na rua

Sem faixa ou bandeira

O povo na rua

Na rua inteira

O povo de novo

Versão verdadeira

No peito, o Brasil

Sem estrela vermelha!

O povo de novo

De gênio, de raças

De riso e lágrima

De calos na alma

Abraçando-se às praças

O povo na rua

Que é sua, é de todos

Pois é desse jeito

Que seremos soltos

Nos campos, nos pastos

Melhor sermos mortos

O povo é lindo!

É lindo pra mim

O povo é um monstro

Pra quem o consome

O povo insone

Na Rua Sem Nome

Com febre, com fome

Fazendo sua arte

O povo gritando:

Já basta! Não quero!

O povo gritando:

Sou verde e amarelo!

O povo gritando:

Cansei desta bosta

De voto e bolero!

O povo gritando:

Não vou parar, não!

O povo gritando,

Explodindo o pulmão

O povo cantando

A sua canção

Os passos batendo

Em marcha, então!

Ah, povo bonito

Que lindo teu grito

Que choro, que sinto

Sem medo, estou limpo

Que lindo o povo

Gritando nas praças

Que medo do povo

Vibrando nas taças

Nas mesas mais fartas

Das nossas desgraças!

Que lindo o povo

Eu sou brasileiro!

Divino, de novo

Me sinto inteiro

Na rua gritando

Sou, sim, baderneiro!

Sou povo, sou bando

Malandro, eu bebo

Eu fumo e minto

Urino e defeco

Sou gente, sou carne

Com cheiro e defeito

Do rico ladrão

Exijo respeito!

É o povo que paga

O imposto sem falta

É o povo que sofre

As agruras na alma

É o povo que leva

O país nas suas costas

E o rico de bosta

Que hoje detesta

Não serve pra nada

Rapina e faz festa!

Sou povo, sou rua!

Infinita alegria

Sem patrão ou governo

Quem dera, ou diria?!

Já somos milhões

Pura filosofia

Ensinada na rua

Na noite mais fria

Que ninguém fique em casa

Calça a bota, cambada

Pois a hora é chegada

Da ressaca do pobre

O mais nobre entre a gente

O reduto da alma

O mais resistente

A riqueza real

A roda do mundo

O ser ideal

O Profeta ditou

Que essa hora chegaria

Que no pobre de verdade

Mora toda a humanidade

E que a miséria findaria

Tudo é do povo

E sua alma é anarquia

Tudo é do povo

A emoção, a sedução, a alegria

Que honra viver neste dia!

Milhões de coroas nas ruas

Brilhando estrelas na noite

Libertas do medo do açoite

Portando a mais pura a nobreza

Tudo é do povo!

Toda obra e riqueza

Tudo é do povo

Toda a História e grandeza

Tudo é do povo, vamos

Acabar com essa moleza!

D.S.