O cortador de cana.
 
Caminhando trópego a pobre figura,
abria sua boca como quem múrmura,
uma reza, um canto, um pensamento
vai sem rumo como folha ao vento.
 
Curvo qual sombra de idoso tronco,
seu perfil se mostra  feio e bronco,
 apagada memória,regrediu no tempo,
ninguém lembra do trapo ao relento.
 
Na juventude nem conheceu letras,
o alfabeto um bicho de sete cabeça,
só a inchada ,caatinga e terra seca,
uma vêz no dia, feijão e água na caneca.
 
O emprego melhor foi cortador de cana,
seu benfeitor lhe emprestava a grana,
numa bodega comprava café e açucar,
 cocada e pão doce para cobrir a gula
 
Num rancho feito de ripa e de barro,
um tamborete ,fumo e um escarro,
um canto tristonho da boca banguela
torna suas noites uma esparrela.
 
Sem parentes e sem sobrenome,
o infeliz na escravidão sem nome
até que a velhice veio de encontro,
sem forças pra trabalhar p'ro dono.
 
Alguns lhes dão um prato de comida,
gente pobre que não tem nada na vida,
que como ele ,nada esperam do futuro,
vivem como cegos num mundo escuro.
 
O exemplo de uma Pátria sem cultura,
muitos  ignorantes sem ter extrutura
Servos e escravos para os poderosos
Seguem sem futuro como esta figura.