A HISTÓRIA DE CHICO - UM AGRICULTOR DO SERTÃO

Uma noite no castelo

de minha palhoça humilde:

de dia o sol me procura,

de noite a lua me ilude,

me sinto como um príncipe

da vida não tenho queixume.

Pelas cinco da manhã

os passarinhos em festa

da rede dou um pinote

olho logo pela fresta:

Piaba me abana o rabo

e olha me dando um mote:

Não tenho no bolso um cobre

mas minha enxada é riqueza,

minha amiga é Piaba

os calos da mão a certeza

que de vida de pobre

a minha é de primeira.

Não temo nem bicho nem gente,

alma, doido ou assombração,

pego cobra com a mão

faço do chocalho repente

mas covardia faço não

nem me junto com quem mente.

O meu nome é Francisco

no Cartório e na Igreja

mas minha real intenção

quando passo da soleira

é ver Maria José

no canto da pia em pé

segurando a criação:

Dois meninos no chão,

outro segurando o peito

no quintal mais um eito

o muidinho no colchão

minha Maria se rindo

dizendo toda faceira:

eu tô é desconjuntada

desde a última feira

teve aquela brincadeira

e aqui na barriga tem

mais um filhinho teu

pra aumentar a enfieira.

Vida de rico tá longe

mas me sinto como nobre

nesse barraco de palha

onde a dignidade dorme

minha alegria é saber

que dessa terra vivo

tirando da terra o feijão

tendo amor no coração

pra não ficar embrutecido.

CrisLima
Enviado por CrisLima em 10/06/2010
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