A HISTÓRIA DE CHICO - UM AGRICULTOR DO SERTÃO
Uma noite no castelo
de minha palhoça humilde:
de dia o sol me procura,
de noite a lua me ilude,
me sinto como um príncipe
da vida não tenho queixume.
Pelas cinco da manhã
os passarinhos em festa
da rede dou um pinote
olho logo pela fresta:
Piaba me abana o rabo
e olha me dando um mote:
Não tenho no bolso um cobre
mas minha enxada é riqueza,
minha amiga é Piaba
os calos da mão a certeza
que de vida de pobre
a minha é de primeira.
Não temo nem bicho nem gente,
alma, doido ou assombração,
pego cobra com a mão
faço do chocalho repente
mas covardia faço não
nem me junto com quem mente.
O meu nome é Francisco
no Cartório e na Igreja
mas minha real intenção
quando passo da soleira
é ver Maria José
no canto da pia em pé
segurando a criação:
Dois meninos no chão,
outro segurando o peito
no quintal mais um eito
o muidinho no colchão
minha Maria se rindo
dizendo toda faceira:
eu tô é desconjuntada
desde a última feira
teve aquela brincadeira
e aqui na barriga tem
mais um filhinho teu
pra aumentar a enfieira.
Vida de rico tá longe
mas me sinto como nobre
nesse barraco de palha
onde a dignidade dorme
minha alegria é saber
que dessa terra vivo
tirando da terra o feijão
tendo amor no coração
pra não ficar embrutecido.