MATUTO NOS AVIÃO

MATUTO NOS AVIÃO

Autor: Zé Saldanha

Lembrança do autor de sua viagem a Brasília

Me dero uma passage, dotô

Viagei de aeroprano

Muito pro riba das nuve

Bem perto do suberano

Eu dissi: eita matutão

Viage ai de avião

Purriba dos oceano...

Sô matuto veio, dotô

Mais sô cabra de cartaz;

- Incontrei nos avião

Uma moça e um rapaz

Com a maió aligria

Tudo me dando bom dia

Meus amigo até de mais.

A moça dos avião

Bonita como as arora;

Veio me trazê um prato

Bem preparado na hora

Falou comigo contente

Mais ca fala deferente

Dessas línguas lá de fora;

A comida bôa e bem feita

Mais tava um poquinho insouça;

Porém eu sou prevenido

Trazia sá numa bossa

Sarguei e miti o pau

Mais veio um tá de curau

Num gostei do curau da moça...

Se eu demora-se mais aprindia

A dirigir os avião;

Proque a moça fez pra mim

Todo siná de mensão:

Como vai e como vem,

Subi e dessê tombem

E como sentá no chão..

Veio um cabra e me deixou

Com os ouvido tapado;

Mermo tapado eu uvia

Ainda um frevo danado

Eu com aquele pretesto

Qui parissia os cabresto

Dos cavalo de reinado...

Sartei no tá de aruporto

Do mundo perdi a fé;

Vi minha maleta andá

Viajando sem tê pé

Passou bem pertim de mim

Como quem dizia assim

Adeus, té logo José...

Se um dia eu ainda vortá

Pras terra qui eu quero bem;

Vou andá no meu gangão

Pros canto qui me covém,

Num vou mais comé curau

E num viajo nem a pau

Nos avião de ninguém!

AUTOR: José Saldanha M. Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 1918, é atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte e talvez do Brasil, em Plena Atividade aos 92 anos.

ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )

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