Cobrindo Espelhos

Resto de campo, primavera, madrugada

e a velha gaita ressongona de botão;

uma milonga e o chimarrão que é mais amargo,

são companheiros nessa ronda solidão.

Tragos de canha, santo ofício dos campeiros,

no coração abrem caminhos pra saudade,

que por maldade do destino vai num tranco,

até os dias que chamei felicidade.

E as lembranças são estrelas que amanhecem

no lusco-fusco das paixões que me perdi;

e as lembranças pela estrada vão se embora,

agora apenas resta o tempo que venci.

A noite é finda, o dia é cinza e o vento é norte,

a morte é certa como é certa a tempestade,

cobrindo espelhos quebro o queixo do passado,

enquanto espero, aqueço a água, viro o mate.

Marco Araujo
Enviado por Marco Araujo em 14/12/2006
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