Exilado

Há dias que só chove, não venta, nem se inventa ao sol.

Invernou de um jeito, fundiu-se o horizonte, endireitou-se o anzol.

Agosto nem se apresentou e o tempo já plasmou com tanta água.

Haja pasto e guarida para curar as feridas desta invernada.

As plantas sem alforria escoam longos filetes.

Brotam na planura do espelho, esteios e piquetes.

São seres engaiolados por arames enrijecidos,

Alvejados por alfinetes, boiando num pranto desconhecido.

Um dia depois de outro, permeado por noite escura,

Da moldura quarteada, de uma janela espremida,

Vislumbra o tempo, olhando pra imensidão fundida.

Crê não ser pra sempre a isolamento nessa vida.

Queria levar a vida no talento, flutuar por mil procuras.

Inventando outros ruídos, tal cantoria de saracuras.

Navegando como balsa na planura desta aguada.

Sem limites, margens, nem caminhos ou estradas.

Da moldura da janela vê-se esquecido.

A harmonia deste tempo lhe tirou o ginete.

Cravejado por uma só beleza do amanhecido,

Engana-se com os estampidos dos filetes.

De belo a prata, misturado com o verde escorrido.

Da moldura coleciona o tempo com olhar esmaecido.

Recorda do contorno empoeirado, perfume de jasmim.

Sabe que não é eterno o inundado, setembro terá fim.