O surubim

Na desova da piracema

quando pescador honesto

recolhe suas tarrafas,

o surubim, peixe de couro,

rastreia silencioso a barriga do rio.

Mas na feira de domingo

o pescador, homem de couro,

remendando a rede repete sempre:

surubim é peixe ignorante.

No São Francisco desceu

a vida toda peixe morto.

Surubim não sabe saltar.

Sai de dentro d’água e,

com a velocidade que vem,

bate com a cabeça na pedra

e morre na hora.

É essa a burrice do surubim,

apesar da carapaça que o reveste,

e do fundo escuro de leito de rio,

das esquisitices do lodo negro em que

só surubim se atreve.