VIVER É MUITO PERIGOSO

De Toleima a Curvelo e Urucuia

O gerais se espalha sem tamanho

Nasce o lago à sombra do capão

Nas veredas do pasto sem rebanho.

Sertão.

Relinchos de cavalos sob a lua

As esporas e a faca reluzente

Os enleios da vida só permitem

Breve olhar, furtivo e reticente.

Riobaldo.

Lado a lado no desvéu da madrugada

Olhos verdes pousados no horizonte

O amor que fere o peito é segredo

Como águas profundas sob a ponte.

Diadorim.

Viver é um descuido prosseguido

Da morte ninguém foge, ninguém corre

Um chefe de jagunços respeitado

Na mente dos seus homens nunca morre.

Joca Ramiro.

Verdade se carece de aprender

O sertão está aqui dentro da gente

Porquê o bem e o mal estão no mundo

Desde que surgiu na terra o ser vivente.

Zé Bebelo.

Destemido, mau e arrenegado

Pra matar foi sempre pontual

Fez pacto de alma com demônio

Ilegítimo, foi símbolo do mal.

Hermógenes.

A coragem se dobra e se redobra

O medo dá lugar à valentia

Há coisas que se fazem só em guerra

E o bom senso se perde na porfia.

Batalha.

Dobravam para dentro e para fora

Sanharam, baralharam e terçaram

Desumanos urraram como feras

Faca a faca, malditos se cortaram.

Hermógenes e Diadorim.

O travo justo de tanto segredo

Aponta o corpo sobre a laje fria

Naquela quadra do entardecer

Tudo é triste, nonada, travessia.

Morte.

JotaCF
Enviado por JotaCF em 01/09/2012
Reeditado em 20/10/2012
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