BEM DOMADO

Esse potro que era altivo e redomão

Tá amansado e já não regateia mais.

Puxo as duas rédeas do meu coração,

E eu só quero ver se ele não vem pra trás.

Ainda dói cada relhaço que ele leva,

Pela boca espuma, mas toma tenência,

Solta pelas ventas, como bom maleva,

Toda a raiva que se esconde na obediência.

Só que, como brasa que se encolhe agora

Nos restos mortais desse fogo de chão,

Se esquentou de noite, quando chega a aurora

Esse orgulho morre embaixo do borrão.

Todo dia encilho o pingo bem domado,

Pego o laço, monto e vou pra campereada,

Que na dura lida, repontando o gado,

Ele até se esquece de sua dor danada.

Hoje ele obedece, sem dificuldade,

Meto-lhe as esporas só pra me entreter.

Mando em meu destino e afogo na saudade

As vontades loucas desse bem-querer.

15/11/2012

Mauren Guedes Müller
Enviado por Mauren Guedes Müller em 14/01/2013
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