Quando a noite abre o seu poncho

A noite abre suas portas

Pra os mistérios do galpão

Onde gaúchos mateiam

E falam de assombração.

De almas penadas que andam

Gauderiando noite a fora

Luzindo o breu dos campos

Com as estrelas das esporas.

Contam de um homem a cavalo

Que habita as velhas estâncias

Pelas mangueiras de pedra

Povoando nossa infância.

Ruflando um lenço encarnado

De lança firme na mão

Por certo veio dizer

Que ainda é seu este chão.

Ele demarcou fronteiras

Nos idos de antigamente

Na Província de São Pedro

Do Rio Grande continente...

(um homem sem lei, nem credo)

Changador na sua essência

Que fez a cascos de potro

Os limites da querência.

Botas de garrão de potro

Pra os corcovos do ventena

Tráz pirilampos nos olhos

E estrelas nas nazarenas...

E aparece pra os descrentes

Num rodopio de vento

De chapéu “pança de burro”

Com barbicacho de tento.

Poncho negro como a noite

Como veio, foi-se embora

Talvez um dia, quem sabe?

Eu o veja campo a fora...

Ruflando um lenço encarnado

De lança firme na mão

Com gritos de liberdade

P’ra acordar este rincão.