NATUREZA MORTA

Hoje no meu sertão

Acabou-se a alegria

Não se vê mais hoje em dia

O que se via antigamente

Do homem nada escapa

Tudo sumiu do mapa

Bem aqui na nossa frente

Não vejo mais a garrincha

Que tanto cantarolava

O bem-te-vi que cantava

O sirino e o sofrer

Onde estão eles agora?

Será que foram embora

Ou deixaram de viver?

Onde está a juriti

Também a fogo-pagou

O azulão cantador

Pica-pau e cava-chão

Ai que saudade que tenho

Do saudoso desempenho

Do lindo cata-pilão

A bizunga beija-flor

Como era conhecida

Beijando as margaridas

No pomar do meu quintal

Só ainda não sumiu

O que chamamos de guiu

O verdadeiro pardal

O gavião do pé de serra

O petisco e a cauã

Que cantavam de manhã

Nos mas lindos madrugais

Já sumiram do sertão

O homem sem coração

Comeu de forma voraz

Onde está a garça branca

O marreco e o cariri?

A zabelê que não vi

O canto da saracura?

Com a natureza morrendo

O homem é que está perdendo

E vivendo em noite escura

O sabiá cantador

O preá e o tatu

O porco-espinho caititu

A raposa e a sussarana

Estão perto do seu fim

E o pobre do guachinim

Nunca mais comeu banana

A codorna piriri

a perdiz e o nhambu

O negro e lento anum

Que com preguiça voava

Me lembro do cardeal

Que vinha pro meu quintal

Abria o bico e cantava

Hoje só resta saudade

De tudo que era bom

Por não ouvir mais o som

Da natureza cantar

Deixo aqui minha cobrança

Pois acabou a esperança

De tudo recomeçar.

Vasquinho Violeiro
Enviado por Vasquinho Violeiro em 21/08/2007
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