Meu Sertão

O sertão tem sua ciência

Tem muita sabedoria

Tem a luz da inocência

O fogo da valentia

Tem história de cangaço

Homens duros que nem aço

Visagens que só arredam

Na claridade do dia.

Tem a donzela bonita

Trajando simplicidade

No seu vestido de xita.

Tem a fé, tem caridade

Tem a fome que vadeia

Como fera assassina

Levando de eito gente

Velha moça e menina.

Tem a chama da esperança

No olhinho pesaroso

De suas pobres crianças.

Tem velho com mais de noventa

Que se sustenta na lida

No roçado, na enxada

Dia, noite e madrugada

Na luta dura e renhida

Tem o fogo abrasador

Do verão que tudo bebe

Tem tiradas de doutor

De cabra que mal escreve

É um poço de cultura

Perene e vigoroso

Fenomenal, majestoso

Onde todo Brasil bebe

Meu sertão tem vaquejada

Que não são iguais a essas

Com uns boizinhos de nada

E gente fazendo festa.

Vaquejada que se preza

É com touro barbatão, um cavalo alazão

Um cavaleiro aprumado

Guardado por um gibão.

Meu sertão tem nas entranhas

Um povo firme e forte

Com uma força tamanha

Que na vida encara a morte

Não se verga, não se entrega

E vive seu sofrimento

Na esperança que um dia

Deus os tire do relento.

Meu sertão está aqui

Aberto a quem quiser

Experimentar o pequi

Beber água em coité

Comer buchada de bode

Pirão e sarapatel

É quente que nem o inferno

Mas é um pedaço do céu.