DO SÍTIO PARA A CIDADE
Vendi meu taco de terra
E vim morar na cidade,
Aqui eu não tenho paz,
Não tenho felicidade,
Do meu rancho lá no sítio
Só me resta a saudade.
Eu tinha muita vontade
De a cidade conhecer,
Então vendi minha terra
E aqui eu vim viver,
Mas de arrependimento
Com certeza vou morrer.
Lá eu criava galinha,
Pato e porco no chiqueiro,
Criava peru, guiné,
Bode, cabra e carneiro,
Um sabiá cantador
E um cachorro perdigueiro.
Lá no sítio eu criava
Uma vaquinha malhada,
Um cavalo corredor
Pra eu fazer cavalgada,
Um jegue e um velho burro
Pra levar carga pesada.
A um rico fazendeiro
Tudo que eu tinha vendi,
Botei as roupas num saco
E pra cidade parti
Hoje meu coração dói
Muito me arrependi.
Tenho saudade do campo
Do meu lindo riachinho,
Sinto saudade de ouvir
O cantar de um passarinho,
Me lembrando do meu sítio
Aqui eu choro sozinho.
Foi uma grande burrice
Minha terra eu vender,
Nessa imensa cidade
Está ruim de viver,
Queria voltar pro sítio
Onde eu sentia prazer.
Aqui só tem violência,
É tiro pra todo lado,
Se alguém vai comprar um pão
Na esquina é assaltado.
À noite aqui nas ruas
Só tem ladrão e tarado.
Aqui é grande a zoada
De carro abalando o chão,
E lixo pra todo lado,
Esgoto, poluição...
Aqui não tem o ar puro
Que eu tinha no meu torrão.
Minha velha todo dia
Chora pra se acabar
Lembrando dos animais
Que lá chegava criar
Hoje o seu maior sonho
É para o sítio voltar.
Com o dinheiro da venda
Da terra e dos animais,
Aqui comprei uma casa
Que roubou a minha paz,
Desse dinheiro um real
Hoje eu não tenho mais.
A terra que eu vendi
Não posso hoje mais comprar,
Também não tenho dinheiro
Pra comprar noutro lugar,
Digo muito magoado
Aqui vou me acabar.
Com mágoa no coração
digo sem felicidade:
Queria voltar pro sítio
Mas essa é a verdade...
Vou morrer arrependido
Nas ruas dessa cidade.
(Sítio Ilha Grande, Santana do Mundaú-AL, 28 de julho de 2013)