Capibaribe

Celebro as águas fundas,

rasas, lamas, deste rio

desde a sua nascente - mananciais de vidas

pérolas, que se escorregam vertentes

pelos declives, Pernambuco afora.

Decanto a mansidão noturna

de águas turvas e claras

deste rio em suas curvas,

confluências e afluências

e em que lava, leva e bebe o Beberibe ...

Recife dessalga e desagua

fontes de inspiração dos mangues

espelho das pontes,

és contemplação...

Estuário do Pina, Jiquiá, Tejipió, Jordão

à minha jusante

que desemboca no Atlântico, Porto, Cais

para, cruzando, abraçar Santa Rita,

Alfândega, Apolo, Aurora e Estelita...

Lá, mais acima, lamento em prantos

o mesmo rio, soturno, agreste

em que parte do Nordeste perde os trilhos,

o prumo;

nos olhos dos homens, o brilho

e em seus corações, a fé;

Tudo é deserto...

Marés de desencantos

e dum futuro incerto...

Um rio que não passa cidades

nem vidas de forma alguma;

sem margens ou profundidade...

Cá és perene,

acolá cemitério de areias,

pedras em esqueletos...

Um rio que é fechado aos peixes

Um Rio que é Cão Sem Plumas,

(que nada entende de chuvas,

quase morto, incompleto

a mendigar uma passagem

como na "Paisagem"

de João Cabral de Melo Neto.

Beto Acioli

21/02/2015