O Calor no Sertão

Moço! O sole tá de rachá o chão!

Nas incosta da sina, o qui se vê

É o povo das roças lamentano.

E no lamento merguia

Inté os pêxe ta disinqueto

Tô achano quêles ta sintino a tále temperatura.

Diz que o rebêrão da Onça

Secô e só vê o toá todo trincado

Diz que a onça passo pru lá

E caiu no choro de dá dó.

A passarada? Ah! Ribô voo

E foi percurá água lá no Poção do Cafundó.

Inté tô sintino que pro lá ta feio tomem.

Pois o Zeca meu fio do mei

Falô que o cumpade Dorvalino

Foi dá água a criação

E vortô num lamurio

Que inté féis chorá a cumade Cunceição.

O Corgo da Lontra tadim

Tá só ismiuçano e o João de Barro?

Ô Grória! Pensano na cunstrução

Se pará a sua obra a amada vai imbora

Adispois ele vai ficá chorano e oiano pa lua

Soluçano na banda de fora.

Aquela cachuêra que derramava

Tá nos úlitimos pinguin:

Toc, toc, toc... eu fico numa tristeza

E mais triste ainda

Pru vê as pedra se lamentano

De quando se lavava nas correnteza.

O Riacho do Nêgo, a cada dia no ôsso

Inté pa mode nóis tumá banho

Tem que saí catano as poça.

E ôceis sabe cumo é a lida

Dessa vidas suada vida

De nóis aqui da roça.

A Lagoa do Vento?

Moço! O sapo inté abandonô

O tadim debaxo da loca

Cum os zóio isbugaiado

As lágrama corre cara afora

Nem coacha mais o coitado.

A tarde ino imbora sem pressa

Um silênço na imensidão

A rivuada rutinêra que trazia o canto

Hoje somente uma Andurinha

Que daqui e ali, tadinha

Tem sodade daquele incanto!

A nôte chega sem rumo

Sem a isperança da brisa

Esta, iscundida no vento

Com medo do grande calô

Os animale sem o pasto

Ruminano, o ristimde capim que sobrô.

Do alto da Serra da Raposa

O brio nos zóio da Coruja

Tudo ao redóre é vazio.

E daquela curva da istrada

Dadonde avista o rancho

Sente a força do istio.

Hoje vô drumi mais cedo

Eu sô um cabôco sem medo

E tenho fé em Deus

E a àlivorada vai me acordá.

E os truvão do celestial

Os premêro pingo vai anunciá.

Eu vô abri a portêra

E dêxa as água intrá

O que é puêra vai virá lama

E o solo sagrado vô cavucá.

Pois o devê me chama

E a roça é o meu lugá.

Aqui nesse peitio tem fé

Tem chama e tem o querê

E tudo tem o seu tempo.

A mióre coisa do mundo

É sê isperançoso

Eis ái o advento.

A Binidita vai inté chorá

Ora! Do jeitio quéla gostia de rezá

Vai botá os juêi pro terra

E cum muitia fé vai agardicê

E nóis sabe que Deus

Tem seu grande pudê.

Eu sou o Remundo do Bento

Imbigo interrado neste sagrado chão

Cada passo queu dô

Tenho cumigo a proteção

Salve Jorge, sagrado Jorge!

E o meu amado sertão!

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 26/09/2023
Código do texto: T7894731
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